Bora catraiar?
Em 2011, novo meio de transporte em Santos e São Vicente
Por Willian Guerra
Para que o VLT saia do papel e comece a andar pela Baixada Santista, o Governo do Estado está investindo 21 bilhões de reais até o final de 2010. A iniciativa também tem o objetivo de ampliar, melhorar e integrar o transporte público na região metropolitana. O Governo vem chamando esse projeto de SIM - Sistema Integrado Metropolitano.
Este sistema vem sendo implantado com o objetivo de reestruturar e conseqüentemente, melhorar o sistema de transporte público na Baixada Santista, por conta do VLT operando juntamente com linhas de ônibus municipais e intermunicipais e as ciclovias.
O consultor de transportes na área de tecnologia do Grupo Trends e especialista em VLT's, Peter Alouche, afirma que não só o conforto e a rapidez na viagem, mas sim a de mais ou menos 300 mil habitantes das cidades envolvidas.
Alouche estuda diferentes alternativas de transporte desde os anos 1970. Tem estudos sobre metrôs, monotrilhos, VLT's e BRT's. Por 35 anos, trabalhou na Companhia de Metrô de São Paulo, nas áreas técnicas e de tecnologia. Hoje é membro da Associação Internacional de Transportes Públicos e editor da revista de transportes da Associação Nacional de Transportes Públicos.
De acordo com Peter Alouche, o Metro Leve surgiu amparado pela ideia de garantir um transporte eficiente para uma demanda de média capacidade, desafogar o trânsito urbano e provocar uma reurbanização do entorno. O utilizado na região será por tração elétrica, como o VLT de Brasília, elogiado por Alouche, pois não emite gases poluentes e quase não produz ruídos.
Os semáforos da vias publicas serão controlados eletronicamente para que o VLT seja rápido em seu trajeto. O veículo de transporte gastará apenas nove ou dez segundos para atravessar os cruzamentos públicos. O seu tempo de parada em cada estação será de 20 segundos o percorrerá o trajeto do Terminal dos Barreiros, em São Vicente até o Porto de Santos em aproximadamente 33 minutos.
Na ilustração, você pode acompanhar as estações definidas pela EMTU o qual o Metro Leve deve percorrer.
Imagens: Governo do Estado de São Paulo e EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos)
Um direito difícil de exercer
Por Gabriel Martins
Manoel Carvalho de Jesus, de 65 anos, tem a perna direita amputada quando tinha 35 anos por causa do vício do cigarro. Fumava três maços por dia e ainda fuma, embora menos. “Desde que fui condenado a andar de cadeira de rodas minha vida tomou um rumo totalmente diferente. Andar por Santos usando isso é mais complicado do que parece. Como se não bastassem as ruas que são muito ruins, as pessoas não são solidárias”, diz, reclamando que muitas vezes quando ele precisa de ajuda para atravessar uma rua ou para subir no ônibus, não o ajudam ou se irritam com a demora que ele causa.
Neste momento, a entrevista teve que ser interrompida, pois o ônibus chegou ao ponto, na Avenida Conselheiro Nébias, em frente ao Hospital Conselheiro Nébias. Pelo menos desta vez, Carvalho foi muito bem atendido pela motorista do ônibus municipal. O processo todo, desde a saída do motorista até a sua acomodação no lugar reservado para os cadeirantes, não durou mais de dois minutos. No ônibus, muitos olhares tortos para ele, mas alheio a tudo o aposentado olhou para o repórter e retribuiu com um simples “ok”.
De acordo com o Decreto Federal 10.098/2000 — que estabelece normas e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida — o transporte público precisa estar 100% adaptado até o ano de 2014. Hoje, a frota de ônibus adaptados na Baixada Santista é de apenas 18%. Na região, Santos conta com 150 ônibus adaptados ou 52% da frota total. As outras cidades somam apenas 38 veículos.
A Viação Piracicabana disponibiliza uma frota de 428 veículos, que fazem o trajeto entre as cidades. Apenas 33 deles são adaptados. (7,7% do total). De acordo com a empresa, 143 ônibus com acessibilidade serão colocados em circulação até julho. Alguns deles farão substituição aos ônibus antigos. A distribuição exata dos novos veículos ainda não está definida.
Segundo a presidente do Condefi, Célia Regina Diniz, as maiores reclamações sobre transporte público para pessoas com deficiência são: insegurança quanto à falta de infraestrutura de alguns veículos; motoristas que muitas vezes não sabem usar o elevador e são, em geral, mal-educados. Esses problemas só ocorrem com os ônibus intermunicipais, já que, segundo Célia, a entidade mantém reuniões mensais com os motoristas das linhas municipais de Santos. “Em relação à Piracicabana, o conceito de educação varia de pessoa para pessoa. O treinamento é dado de forma igual para todos os motoristas e eles são sempre instruídos a tratarem da melhor forma possível as pessoas com deficiência física”, diz.
O primeiro lugar no ranking de reclamações, segundo o Condefi, está a questão de os ônibus não pararem nos pontos para os deficientes. Apesar de nenhum motorista ou passageiro admitir, ninguém tem paciência de esperá-los subir no ônibus. “Esse problema atinge só os intermunicipais”, diz Célia.
O risco sob duas rodas
Por Aline Porfirio Março, sábado, um pouco antes das sete horas da manhã. Ele já está na rua cumprindo o primeiro serviço do dia. Acelera em direção a São Vicente, levando um passageiro que precisa chegar com urgência. Este sábado é só mais um nos 16 anos de profissão que Osman Santos Oliveira tem para contar. Na experiência com a moto nas ruas, sofreu vários acidentes. “Foram tantos que nem sei mais quantos foram de fato”, diz o motoboy. Há seis anos, Oliveira estava em um dia de serviço rotineiro. Dirigia na rodovia Padre Manoel da Nóbrega, na altura do pedágio do Humaitá, em São Vicente, quando uma carreta o fechou, arremessando-o da moto. Fora os ferimentos, teve de passar por uma cirurgia para a retirada do baço, comprometido pela queda brusca. As lembranças do acidente são vagas na memória, mas ao olhar para a barriga, onde guarda a cicatriz de aproximadamente 20 centímetros, ele se lembra daquele que foi o acidente mais grave que sofreu. Hoje aos 38 anos, não sabe se vai conseguir mudar de ramo. O que era para ser temporário, aventura de juventude, acabou se tornando profissão. “Acho que não tenho mais idade para arrumar outra coisa para fazer. Estou velho para o mercado de trabalho. Vamos ver até quando aguento”, diz. O tempo de experiência de Oliveira contrasta com a idade média dos motoboys. A maioria dos funcionários têm entre 19 e 26 anos e está na profissão pela facilidade de financiamento do veículo e pela falta de oportunidades no mercado de trabalho. A nova legislação pretende reduzir uma parte desses problemas da categoria, visto que muitos trabalham na clandestinidade, sem compromissos ou segurança. É o que explica o podcast feito com José Eduardo Fiodorliva, gerente da Metrópole, empresa de moto-frete com sede em Santos, São Paulo e interior. Motociclismo: Para os motoboys estresse; para os estradeiros, lazer e liberdade A rapidez e os deslizes dos motociclistas no trânsito geram, por muitas vezes, certos preconceitos com a categoria. O que muita gente não sabe é que existe uma diferença entre os trabalhadores de moto e os motociclistas, um público que utiliza o transporte como fonte de lazer. A adrenalina impulsiva, o prazo de entrega e o estresse dos motoboys faz com que o alerta do sinal vermelho, o som das buzinas e os gestos de sinalização passem despercebidos ou ignorados por eles. Já os motociclistas levam a vida ao estilo in road, ou seja, circulam pelas estradas com suas motos que, geralmente, ultrapassam as 250 cilindradas. Um público que preza a liberdade em cima das duas rodas e busca, com isso, lazer e bem-estar por meio desse tipo de transporte. “Não existe regra que explique o que nos difere dos outros. A única certeza é que gostamos de viajar e de pilotar a moto, não usamos para o dia-a-dia”, explica Lucas De Santis Silveira, motociclista e amante das máquinas desde pequeno. Ele faz parte do grupo que usa colete de couro, se reúne para falar de motos e rock n’ roll e estampa nas costas o nome da equipe que representa. São os chamados motoclubes, ponto de encontro entre os apaixonados pelas duas rodas. Mas essa união de motociclistas tem regras. Para participar é necessário mostrar respeito a normas consideradas básicas, para que não perca o colete da equipe. E motociclismo é paixão mesmo. Com 25 anos de idade, Silveira já sofreu seis acidentes de motocicleta. No último, em 2007, quebrou o braço e a mão esquerda e tinha 80% de probabilidades de ter que amputar o pé esquerdo. Só em recuperação foram gastos 500 mil reais em cirurgia e 20 mil em pinos no braço. Com um estereótipo de imagem de homens barbudões, fortes, tatuados e mal-encarados, os motociclistas são vistos por muitos como gangues. Na verdade, esse grupo apenas leva um estilo de vida próprio. A maioria dos eventos promovidos são beneficentes: arrecadam alimentos e doações para instituições de caridades e projetos sociais. Sendo motoqueiro ou motociclista, o que vale mesmo é respeitar o direito dos outros e as regras de trânsito. “Motociclismo é como o mar, todo mundo que realmente gosta tem que respeitar”, enfatiza Lucas Silveira.
"VLT tem de sair do papel"
Por Arucha Fernandes
“O transporte público não é mais visto como prioridade de governo”. Categórico, o especialista e professor da União Brasileira Educacional (Unibr), Érico de Almeida, diz que só o transporte coletivo estruturado poderá atender a demanda de mais de um milhão de habitantes na Baixada Santista. A melhor alternativa para tornar isso realidade é o Veículo Leve Sobre Trilhos, o VLT. “Ele tem que sair do papel”, alerta.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista para a Mão Dupla.
Mão Dupla — Por que o trânsito está tão caótico?
Érico de Almeida — Alguns fatores ajudaram para a situação chegar a esse ponto. O primeiro é a evolução tecnológica que está barateando o preço dos automóveis, que estão mais acessíveis à população. Alguns especialistas já falam até em pedágios urbanos para aliviar o congestionamento. Em segundo, o fato de que os serviços públicos estão deixando a desejar. O transporte público não é mais visto como uma prioridade de governo. Assim, a população deixa cada vez mais de utilizar o serviço. É preciso mais investimento no transporte coletivo. Por fim, o crescimento imobiliário fez com que a ocupação urbana atual seja composta por construções no limite das ruas e avenidas. Portanto, praticamente não existe espaço suficiente para o alargamento das vias.
Parece que o VLT vai, de fato, sair do papel. O senhor acredita que esse meio de transporte vai desafogar o trânsito na região?
O VLT tem de sair do papel. Isso porque nenhuma região metropolitana com mais de um milhão de habitantes pode sobreviver sem um transporte coletivo estruturado. Caso contrário, seremos obrigados a viver em guetos, dentro de uma mesma mancha urbana, ou seja, a pessoa vai nascer, morar e se educar num mesmo bairro, isso pela dificuldade no deslocamento. Essa lógica se demonstra, por exemplo, com o aparecimento de shoppings construídos para atender a população local.
A esperança para a solução dos problemas de trânsito seria a abertura de mais espaço para os carros, ou seja, vias mais largas?
Sim. Ajustar o espaço para caber mais carros, ou 100% do aperfeiçoamento do transporte público para que as pessoas deixem os carros na garagem.
A criação de motofaixas nas principais ruas e avenidas ajudaria na locomoção e na prevenção de acidentes?
O Conselho Nacional de Trânsito não estabelece legislação sobre motofaixas, portanto, não há punição prevista caso algum usuário desrespeite essa sinalização. Essas faixas foram colocadas de maneira equivocada, copiando uma tentativa de melhorar a fluidez do trânsito feita no estado de São Paulo, que aliás, já foi abandonada.
Confira a matéria completa na Revista Mão Dupla deste mês.
Proibido estacionar
Ciclovias integradas pode ser a solução para trânsito caótico
Por Juliana Fernades
Com uma bicicleta marrom, enferrujada e barulhenta, o morador de Vicente de Carvalho Ednaldo Oliveira Santos, de 35 anos, atravessa todos os dias a balsa com destino a Santos, onde trabalha como ajudante geral em uma empresa no bairro do Embaré. A sua empresa não oferece cartão-transporte. Para não retirar o valor da passagem do salário, ele usa a bicicleta. Assim, consegue economizar R$ 80,00 por mês. O ajudante geral diz que se usasse o ônibus teria de acordar mais cedo, pois levaria uma hora para chegar ao trabalho. Com a bicicleta consome, no máximo, 40 minutos: “Ela está sem breque, mas me leva onde quero. Uso os meus pés como freio e mesmo assim nunca sofri acidentes”.
Existem hoje aproximadamente cem milhões de bicicletas circulando nas cidades brasileiras. Pelo menos 60% desta frota é usada diariamente como meio de transporte, 30% para pequenos percursos e 10% para o lazer. Grande parte dos usuários é de baixa renda. Na maioria dos casos, portanto, a bicicleta é a única opção de transporte.
Das nove cidades que compõem a Baixada Santista, Guarujá é a única em que a administração municipal está mais dispersa em relação aos ciclistas, mesmo com a sua população sendo a número um a usar a bicicleta para ir ao trabalho “A prefeita não faz nada para melhorar as ciclovias, está deixando a desejar”, critica Jessé Felix. Santos, São Vicente e Praia Grande são chamadas de cidades-eixos, por possuírem grandes extensões de ciclovias. Por causa da grande quantidade de veículos circulando pelas cidades, os prefeitos estão dando mais atenção às ciclovias.
O presidente da Ciclosan, Rubens de Oliveira Braga, aponta carências na ciclovia de Santos e diz que o sistema cicloviário não é completo, pois não é integrado que quer dizer ciclovias interligadas e normatizadas, bem iluminadas, sinalizadas, sombreadas para chuva, sol, e com bicicletários compatíveis ao número de ciclistas.
Segundo o presidente da ABC, Santos é a cidade que está mais voltada ao turismo por duas rodas e que o prefeito deveria investir mais pesado nessa área junto às lojas que fazem alugueis de bicicletas, para que assim seja beneficiado tanto os turistas quanto as pessoas que usam como lazer.
O autônomo Jader Queiróz Oliveira, de 27 é exemplo disso, mesmo tendo carros e uma situação financeira estável não deixa de lado a bicicleta para distrair a cabeça e fazer exercícios físicos, além de considerar o transporte econômico, seguro e muitas vezes mais rápido do que o carro. Jader comenta que não usa com freqüência a ciclovia prefere andar nas ruas da cidade. “Acho a ciclovia de Santos boa, porém andar nas ruas é mais tranqüilo, pois a ciclovia está cada dia mais cheia, além de ter o movimento de pessoas indo trabalhar” diz.
O presidente da Associação Brasileira de Ciclistas (ABC), Jessé Felix, diz que o poder público não facilita o uso do veículo: “É preciso tirar do papel a lei referente ao plano cicloviário, que inclui a construção de ciclovias intermunicipais, estaduais e federais”. Uma pesquisa realizada no fim do ano passado pela Associação dos Ciclistas de Santos e Região (Ciclosan) aponta que 55% dos entrevistados que usam veículos motorizados usariam bicicletas se tivessem ciclovias integradas.