quinta-feira, 15 de abril de 2010

O risco sob duas rodas

Por Aline Porfirio

Março, sábado, um pouco antes das sete horas da manhã. Ele já está na rua cumprindo o primeiro serviço do dia. Acelera em direção a São Vicente, levando um passageiro que precisa chegar com urgência. Este sábado é só mais um nos 16 anos de profissão que Osman Santos Oliveira tem para contar.

Na experiência com a moto nas ruas, sofreu vários acidentes. “Foram tantos que nem sei mais quantos foram de fato”, diz o motoboy.

Há seis anos, Oliveira estava em um dia de serviço rotineiro. Dirigia na rodovia Padre Manoel da Nóbrega, na altura do pedágio do Humaitá, em São Vicente, quando uma carreta o fechou, arremessando-o da moto. Fora os ferimentos, teve de passar por uma cirurgia para a retirada do baço, comprometido pela queda brusca. As lembranças do acidente são vagas na memória, mas ao olhar para a barriga, onde guarda a cicatriz de aproximadamente 20 centímetros, ele se lembra daquele que foi o acidente mais grave que sofreu.

Hoje aos 38 anos, não sabe se vai conseguir mudar de ramo. O que era para ser temporário, aventura de juventude, acabou se tornando profissão. “Acho que não tenho mais idade para arrumar outra coisa para fazer. Estou velho para o mercado de trabalho. Vamos ver até quando aguento”, diz.

O tempo de experiência de Oliveira contrasta com a idade média dos motoboys. A maioria dos funcionários têm entre 19 e 26 anos e está na profissão pela facilidade de financiamento do veículo e pela falta de oportunidades no mercado de trabalho. A nova legislação pretende reduzir uma parte desses problemas da categoria, visto que muitos trabalham na clandestinidade, sem compromissos ou segurança. É o que explica o podcast feito com José Eduardo Fiodorliva, gerente da Metrópole, empresa de moto-frete com sede em Santos, São Paulo e interior.

Motociclismo: Para os motoboys estresse; para os estradeiros, lazer e liberdade

A rapidez e os deslizes dos motociclistas no trânsito geram, por muitas vezes, certos preconceitos com a categoria. O que muita gente não sabe é que existe uma diferença entre os trabalhadores de moto e os motociclistas, um público que utiliza o transporte como fonte de lazer.

A adrenalina impulsiva, o prazo de entrega e o estresse dos motoboys faz com que o alerta do sinal vermelho, o som das buzinas e os gestos de sinalização passem despercebidos ou ignorados por eles.

Já os motociclistas levam a vida ao estilo in road, ou seja, circulam pelas estradas com suas motos que, geralmente, ultrapassam as 250 cilindradas. Um público que preza a liberdade em cima das duas rodas e busca, com isso, lazer e bem-estar por meio desse tipo de transporte.

“Não existe regra que explique o que nos difere dos outros. A única certeza é que gostamos de viajar e de pilotar a moto, não usamos para o dia-a-dia”, explica Lucas De Santis Silveira, motociclista e amante das máquinas desde pequeno.

Ele faz parte do grupo que usa colete de couro, se reúne para falar de motos e rock n’ roll e estampa nas costas o nome da equipe que representa. São os chamados motoclubes, ponto de encontro entre os apaixonados pelas duas rodas. Mas essa união de motociclistas tem regras. Para participar é necessário mostrar respeito a normas consideradas básicas, para que não perca o colete da equipe.

E motociclismo é paixão mesmo. Com 25 anos de idade, Silveira já sofreu seis acidentes de motocicleta. No último, em 2007, quebrou o braço e a mão esquerda e tinha 80% de probabilidades de ter que amputar o pé esquerdo. Só em recuperação foram gastos 500 mil reais em cirurgia e 20 mil em pinos no braço.

Com um estereótipo de imagem de homens barbudões, fortes, tatuados e mal-encarados, os motociclistas são vistos por muitos como gangues. Na verdade, esse grupo apenas leva um estilo de vida próprio. A maioria dos eventos promovidos são beneficentes: arrecadam alimentos e doações para instituições de caridades e projetos sociais.

Sendo motoqueiro ou motociclista, o que vale mesmo é respeitar o direito dos outros e as regras de trânsito. “Motociclismo é como o mar, todo mundo que realmente gosta tem que respeitar”, enfatiza Lucas Silveira.

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