quinta-feira, 15 de abril de 2010

Um direito difícil de exercer



Por Gabriel Martins

Manoel Carvalho de Jesus, de 65 anos, tem a perna direita amputada quando tinha 35 anos por causa do vício do cigarro. Fumava três maços por dia e ainda fuma, embora menos. “Desde que fui condenado a andar de cadeira de rodas minha vida tomou um rumo totalmente diferente. Andar por Santos usando isso é mais complicado do que parece. Como se não bastassem as ruas que são muito ruins, as pessoas não são solidárias”, diz, reclamando que muitas vezes quando ele precisa de ajuda para atravessar uma rua ou para subir no ônibus, não o ajudam ou se irritam com a demora que ele causa.

Neste momento, a entrevista teve que ser interrompida, pois o ônibus chegou ao ponto, na Avenida Conselheiro Nébias, em frente ao Hospital Conselheiro Nébias. Pelo menos desta vez, Carvalho foi muito bem atendido pela motorista do ônibus municipal. O processo todo, desde a saída do motorista até a sua acomodação no lugar reservado para os cadeirantes, não durou mais de dois minutos. No ônibus, muitos olhares tortos para ele, mas alheio a tudo o aposentado olhou para o repórter e retribuiu com um simples “ok”.

De acordo com o Decreto Federal 10.098/2000 — que estabelece normas e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida — o transporte público precisa estar 100% adaptado até o ano de 2014. Hoje, a frota de ônibus adaptados na Baixada Santista é de apenas 18%. Na região, Santos conta com 150 ônibus adaptados ou 52% da frota total. As outras cidades somam apenas 38 veículos.

A Viação Piracicabana disponibiliza uma frota de 428 veículos, que fazem o trajeto entre as cidades. Apenas 33 deles são adaptados. (7,7% do total). De acordo com a empresa, 143 ônibus com acessibilidade serão colocados em circulação até julho. Alguns deles farão substituição aos ônibus antigos. A distribuição exata dos novos veículos ainda não está definida.

Segundo a presidente do Condefi, Célia Regina Diniz, as maiores reclamações sobre transporte público para pessoas com deficiência são: insegurança quanto à falta de infraestrutura de alguns veículos; motoristas que muitas vezes não sabem usar o elevador e são, em geral, mal-educados. Esses problemas só ocorrem com os ônibus intermunicipais, já que, segundo Célia, a entidade mantém reuniões mensais com os motoristas das linhas municipais de Santos. “Em relação à Piracicabana, o conceito de educação varia de pessoa para pessoa. O treinamento é dado de forma igual para todos os motoristas e eles são sempre instruídos a tratarem da melhor forma possível as pessoas com deficiência física”, diz.

O primeiro lugar no ranking de reclamações, segundo o Condefi, está a questão de os ônibus não pararem nos pontos para os deficientes. Apesar de nenhum motorista ou passageiro admitir, ninguém tem paciência de esperá-los subir no ônibus. “Esse problema atinge só os intermunicipais”, diz Célia.

1 comentários:

LG Rodrigues disse...

Uma pena saber que existe tanta gente que não consegue compreender as dificuldades passadas pelas pessoas com deficiência física.

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